sábado, 4 de novembro de 2017

Turistando em Sampa – Liberdade/Centro


É estranho você mochilar em grandes cidades como Londres, Paris, Barcelona, Roma, Berlim,  New York, Washington, Lisboa, Toronto,  Montreal e não conhecer sua própria cidade – São Paulo, que na verdade não é bem minha cidade, uma vez que nasci e vivo em Oz (Osasco). Sempre que vou para a “capital”, vou para comprar alguma coisa ou na Santa Ifigênia (meu reduto favorito) ou na 25 de março, porém, a gente foca tanto nas compras é não vê a cidade como um ponto turístico. Enfim... ontem, eu decidi não comprar nada. Não queria sacolas ou pesos. Queria apenas turistar. Dei uma busca no google para conhecer Sampa à pé, mas não consegui achar nada muito consistente como um mapa turístico. Decidi andar e simplesmente andar... mas por onde começar? Liberdade. Achei bonito o nome da estação, por isso optei em ter a Liberdade de ir e vir em minha própria terra e fui.


Que bairro gostoso, que bairro colorido. Delicinha entrar nas lojinhas da rua Galvão Bueno. Achei aquelas sombrinhas inversas por lá, bem mais barato que paguei em Montreal. Quase cortei os pulsos (risos).  Tem muita coisa diferente por lá e qualquer dia eu volto para “comprar” umas coisinhas geeks... mas resisti bravamente e continuei minhas “pernadas” passando por um simpático jardim oriental. 


Que legal! Um semáforo com caracter em japonês. Bem original J


Segui reto pela rua da liberdade e vi umas construções diferentes. Resolvi xeretar e acabei entrando no sebo do Messias. É muito livro antigo, separados por assuntos, sem contar vinis, CDs, quadrinhos. 

Continuei minha caminhada e lá estava ela. A catedral da Sé.
Nunca tinha entrado  para ver como era lá dentro. Sentei-me solenemente em um dos bancos de madeira e fiquei a admirar os vitrais, as colunas, o teto. Quanta arte. Impressionante.

Ao sair tinha muito morador de rua nas intermediações e uma fonte de cor turva. Tinha um pregador pentecostal, tinha policiais, tinha turista. Fiquei pensando qual era a história de cada um?  









Segui adiante, indo para o lado direito e acabei chegando ao solar da marquesa de santos. Tinha uma mostra de Yolanda Penteado.  Entrei e me deliciei com as fotos de São Paulo nos anos 40 e descobri a primeira história que estava procurando – Yolanda Penteado, sua vida e suas paixões.



Segui com minhas andanças e cheguei ao pateo do Collégio. Também nunca tinha entrado ali. E que oásis em meio a São Paulo. Deu até vontade de tomar um café. Mas estava bem cheio e acabei apenas admirando um pouco do ambiente e saindo em seguida.





Nem sabia que a 25 de março estava não próxima, mas ali do alto da São Bento, já avistei a rua mais coloridamente borbulhante de  São Paulo. Só que antes de descer, porque queria ir até o lendário Mercado Municipal, fui atraída por uma música no Largo São Bento. Era uma artista de rua, mas que interpretava clássicos da mp3. Sentei-me ali, perto de dois imensos tabuleiros de xadrez e fiquei analisando e partida e ouvindo aquela música. As flores de uma árvore caiam abundantemente no solo, remetendo ao local uma aura de vida. Novamente fiquei pensando nas histórias que cada uma daquelas vidas tinham para contar.  Os jogadores de xadrez conversavam descontraidamente e se tratavam por apelidos. Era o aguinha, o homem com uma garrafa de “agua”, mas que com certeza não era água que tinha ali, tinha  o professor, que depois disse para mim que não era professor, tinha um morador de rua, dominando uma das partidas, tinha outro dormindo em um canto, e dezenas de pessoas sentadas em cadeiras de praia tomando um sol ou uma sombra na cidade de concreto. Tinha uma base da polícia ali por perto.




A igreja de são Bento estava bem ali em frente. Entrei para ver como era a sua construção. Não era tão suntuosa como a catedral da Sé, mas tinha sua peculiar beleza sacra.

Já era mais de 15 horas. Estava com fome. Tomei coragem e desci a Florencio da Abreu até o mercado municipal. Acho que cheguei tarde e muitas barracas estavam quase que desativadas. Fiquei meio decepcionada. Já tinha ouvido falar tanto do mercado municipal, mas deduzi que o ponto alto dele é pela manhã, assim sendo, perdi o pique e nem acabei  comendo por ali, pois queria experimentar frutas exóticas e o famoso pastel de bacalhau.
Voltei pela Senador Queiros e comi no bar e restaurante Milano -  um file de peixe com camarão, arroz e purê. Um prato bem servido por 32 reais.  


Prossegui na Senador Queiros e entrei na Igreja de Santa Ifigênia. Na porta da igreja, vi uma cena bonitinha e rapidinha. Tinha dois pedintes na escadaria. Um deles, pegou um saco com bisnaguinhas e dividiu com o seu companheiro de “trabalho”.  Eles conversavam alegremente compartilhando daquele pão. Em seguida uma pessoa sai da igreja,  e rapidamente ele pára de comer e estende sua mão para a pessoa (acredito que seja algum trabalhador conhecido da região), que  bate brincalhonamente em sua mão e eles riem,  trocam palavras de gozação como velhos amigos.   Nesse interim, entrei na igreja, peguei alguns trocados na bolsa, fiquei alguns minutinhos contemplando a sua construção. Logo em seguida, saí  e entreguei para aquele morador de rua tão sujo por fora, mas tão limpo por dentro, que me agradeceu com um imenso sorriso.
Atravessei o viaduto de Santa Ifigência e novamente  estava na Estação São Bento. A artista de rua ainda cantava suas últimas melodias. Atraquei ali por mais um tempo. Peguei o metrô e retornei cansada para a casa. É claro que não deu para ver cada detalhe de Sampa, mas deu para caminhar nessa megalópole e ver um pouco do seu charme efervescente.  Ainda pretendo conhecer outros bairros... mas vamos com calma né.





 Fui procurar em Sampa as palavras poéticas que um dia se perderam dentro de mim.  Procurei, procurei e achei algumas delas, as quais deixei brotar nesse poeminha.

Percebendo Sampa

Não passe tão rapidamente pela vida
Deguste-a, perceba sua sinestesia
Sua arte, por toda a parte.

Contemple a sinfonia de cores, cheiros, sabores
Perceba os rumores e dissabores.
Ao chupar uma bala, retire o seu invólucro,
Ao fazer uma selfie, contemple primeiro seu entorno
Tente sair  de tempos em tempos do seu pequeno universo de cinco polegadas
Perceba polegares sujos da poeira da vida
Do pó do asfalto, dos prós e dos contras
Das escolhas e do encurralamento
Tente perceber as cenas, quase imperceptíveis
Tragadas pelas lamúrias
Que ecoam entre uma caixa e um fone de ouvido
Das angústias, das preocupações
Que surgem como densas nuvens escuras
Num dia imperceptivelmente ensolarado
Mas despejadas no confessionário tele móvel
Telepático, ente apático.
Sinta...
Do asfalto pode brotar a flor
Do pedinte, o sorriso mais lindo, quase sem dentes
Das mãos sujas e marcadas, o compartilhar do pão
Da vida livre e descompromissada, a leveza de ser
Do olhar sujo pela fuligem, a honestidade
Das roupas sujas e rotas, emaranhados de dignidade.

De tais, é o reino dos céus, pois não tem nada, mas nada parecido com os políticos, fétidos, desalinhados e desonestos de Brasília.

Lina Linólica - 04/11/2017

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