sábado, 4 de novembro de 2017

Turistando em Sampa – Liberdade/Centro


É estranho você mochilar em grandes cidades como Londres, Paris, Barcelona, Roma, Berlim,  New York, Washington, Lisboa, Toronto,  Montreal e não conhecer sua própria cidade – São Paulo, que na verdade não é bem minha cidade, uma vez que nasci e vivo em Oz (Osasco). Sempre que vou para a “capital”, vou para comprar alguma coisa ou na Santa Ifigênia (meu reduto favorito) ou na 25 de março, porém, a gente foca tanto nas compras é não vê a cidade como um ponto turístico. Enfim... ontem, eu decidi não comprar nada. Não queria sacolas ou pesos. Queria apenas turistar. Dei uma busca no google para conhecer Sampa à pé, mas não consegui achar nada muito consistente como um mapa turístico. Decidi andar e simplesmente andar... mas por onde começar? Liberdade. Achei bonito o nome da estação, por isso optei em ter a Liberdade de ir e vir em minha própria terra e fui.


Que bairro gostoso, que bairro colorido. Delicinha entrar nas lojinhas da rua Galvão Bueno. Achei aquelas sombrinhas inversas por lá, bem mais barato que paguei em Montreal. Quase cortei os pulsos (risos).  Tem muita coisa diferente por lá e qualquer dia eu volto para “comprar” umas coisinhas geeks... mas resisti bravamente e continuei minhas “pernadas” passando por um simpático jardim oriental. 


Que legal! Um semáforo com caracter em japonês. Bem original J


Segui reto pela rua da liberdade e vi umas construções diferentes. Resolvi xeretar e acabei entrando no sebo do Messias. É muito livro antigo, separados por assuntos, sem contar vinis, CDs, quadrinhos. 

Continuei minha caminhada e lá estava ela. A catedral da Sé.
Nunca tinha entrado  para ver como era lá dentro. Sentei-me solenemente em um dos bancos de madeira e fiquei a admirar os vitrais, as colunas, o teto. Quanta arte. Impressionante.

Ao sair tinha muito morador de rua nas intermediações e uma fonte de cor turva. Tinha um pregador pentecostal, tinha policiais, tinha turista. Fiquei pensando qual era a história de cada um?  









Segui adiante, indo para o lado direito e acabei chegando ao solar da marquesa de santos. Tinha uma mostra de Yolanda Penteado.  Entrei e me deliciei com as fotos de São Paulo nos anos 40 e descobri a primeira história que estava procurando – Yolanda Penteado, sua vida e suas paixões.



Segui com minhas andanças e cheguei ao pateo do Collégio. Também nunca tinha entrado ali. E que oásis em meio a São Paulo. Deu até vontade de tomar um café. Mas estava bem cheio e acabei apenas admirando um pouco do ambiente e saindo em seguida.





Nem sabia que a 25 de março estava não próxima, mas ali do alto da São Bento, já avistei a rua mais coloridamente borbulhante de  São Paulo. Só que antes de descer, porque queria ir até o lendário Mercado Municipal, fui atraída por uma música no Largo São Bento. Era uma artista de rua, mas que interpretava clássicos da mp3. Sentei-me ali, perto de dois imensos tabuleiros de xadrez e fiquei analisando e partida e ouvindo aquela música. As flores de uma árvore caiam abundantemente no solo, remetendo ao local uma aura de vida. Novamente fiquei pensando nas histórias que cada uma daquelas vidas tinham para contar.  Os jogadores de xadrez conversavam descontraidamente e se tratavam por apelidos. Era o aguinha, o homem com uma garrafa de “agua”, mas que com certeza não era água que tinha ali, tinha  o professor, que depois disse para mim que não era professor, tinha um morador de rua, dominando uma das partidas, tinha outro dormindo em um canto, e dezenas de pessoas sentadas em cadeiras de praia tomando um sol ou uma sombra na cidade de concreto. Tinha uma base da polícia ali por perto.




A igreja de são Bento estava bem ali em frente. Entrei para ver como era a sua construção. Não era tão suntuosa como a catedral da Sé, mas tinha sua peculiar beleza sacra.

Já era mais de 15 horas. Estava com fome. Tomei coragem e desci a Florencio da Abreu até o mercado municipal. Acho que cheguei tarde e muitas barracas estavam quase que desativadas. Fiquei meio decepcionada. Já tinha ouvido falar tanto do mercado municipal, mas deduzi que o ponto alto dele é pela manhã, assim sendo, perdi o pique e nem acabei  comendo por ali, pois queria experimentar frutas exóticas e o famoso pastel de bacalhau.
Voltei pela Senador Queiros e comi no bar e restaurante Milano -  um file de peixe com camarão, arroz e purê. Um prato bem servido por 32 reais.  


Prossegui na Senador Queiros e entrei na Igreja de Santa Ifigênia. Na porta da igreja, vi uma cena bonitinha e rapidinha. Tinha dois pedintes na escadaria. Um deles, pegou um saco com bisnaguinhas e dividiu com o seu companheiro de “trabalho”.  Eles conversavam alegremente compartilhando daquele pão. Em seguida uma pessoa sai da igreja,  e rapidamente ele pára de comer e estende sua mão para a pessoa (acredito que seja algum trabalhador conhecido da região), que  bate brincalhonamente em sua mão e eles riem,  trocam palavras de gozação como velhos amigos.   Nesse interim, entrei na igreja, peguei alguns trocados na bolsa, fiquei alguns minutinhos contemplando a sua construção. Logo em seguida, saí  e entreguei para aquele morador de rua tão sujo por fora, mas tão limpo por dentro, que me agradeceu com um imenso sorriso.
Atravessei o viaduto de Santa Ifigência e novamente  estava na Estação São Bento. A artista de rua ainda cantava suas últimas melodias. Atraquei ali por mais um tempo. Peguei o metrô e retornei cansada para a casa. É claro que não deu para ver cada detalhe de Sampa, mas deu para caminhar nessa megalópole e ver um pouco do seu charme efervescente.  Ainda pretendo conhecer outros bairros... mas vamos com calma né.





 Fui procurar em Sampa as palavras poéticas que um dia se perderam dentro de mim.  Procurei, procurei e achei algumas delas, as quais deixei brotar nesse poeminha.

Percebendo Sampa

Não passe tão rapidamente pela vida
Deguste-a, perceba sua sinestesia
Sua arte, por toda a parte.

Contemple a sinfonia de cores, cheiros, sabores
Perceba os rumores e dissabores.
Ao chupar uma bala, retire o seu invólucro,
Ao fazer uma selfie, contemple primeiro seu entorno
Tente sair  de tempos em tempos do seu pequeno universo de cinco polegadas
Perceba polegares sujos da poeira da vida
Do pó do asfalto, dos prós e dos contras
Das escolhas e do encurralamento
Tente perceber as cenas, quase imperceptíveis
Tragadas pelas lamúrias
Que ecoam entre uma caixa e um fone de ouvido
Das angústias, das preocupações
Que surgem como densas nuvens escuras
Num dia imperceptivelmente ensolarado
Mas despejadas no confessionário tele móvel
Telepático, ente apático.
Sinta...
Do asfalto pode brotar a flor
Do pedinte, o sorriso mais lindo, quase sem dentes
Das mãos sujas e marcadas, o compartilhar do pão
Da vida livre e descompromissada, a leveza de ser
Do olhar sujo pela fuligem, a honestidade
Das roupas sujas e rotas, emaranhados de dignidade.

De tais, é o reino dos céus, pois não tem nada, mas nada parecido com os políticos, fétidos, desalinhados e desonestos de Brasília.

Lina Linólica - 04/11/2017

sábado, 9 de setembro de 2017

Berlim, Reflexiva

Para cada país, eu traduzi a minha impressão em uma única palavra. Berlim tem marcas. Berlim tem pichações. Berlim tem pessoas tatuadas. Olhei para a fisionomia dos alemões e eles pareciam em constante reflexão  pelo ocorrido no passado. Pareciam não querer esquecer, por isso as marcas em todos os locais, como uma espécie de sinal para  para não voltar a cometer os mesmos erros. É um povo que não se abala com o capitalismo - com o consumo. É um povo comedido.  Essa foi a leitura que fiz quando estive em Berlim. De toda a Europa, achei Berlim o povo menos capitalista.  Ficamos em um hostel no lado mais pobre de Berlim. Se fosse na época do muro, estaria no lado oriental, no lado do comunismo, no lado mais pobre. A escolha não foi proposital, mas fez toda a diferença para conhecer os dois lados da moeda. As duas faces de Berlim. Pudemos caminhar até aquele muro e contemplar os dois lados e ver ali naquele muro tantas manifestações, tantas mentes desejando ser livres para expressar sua arte, seus sentimentos, suas ideologias. Partes do muro foram mantidas como um marco para reflexão. De um lado, um local desprovido de muitos luxos. Do outro, prédios imensos, grandes construções. Tudo muito limpo, cálido e organizado com amplas avenidas.
Descobrimos que para visitar o parlamento era gratuito, agendamos a nossa visita a tardinha. O objetivo era ver o por do sol e ter uma vista panorâmica de Berlim do alto daquele prédio. Infelizmente choveu muito e não vimos o por do sol, mas o que vimos me marcou profundamente. Ao sairmos do Reichstag, local onde Hitler, o sociopata que manipulou a mente de milhares de alemães, vimos ali, em meio a chuva centenas de berlinenses assistindo a sua história, numa espécie de uma linha do tempo - de 1900 até os dias de hoje, os principais fatos históricos acontecidos em Berlim. Eu também parei, em meio a chuva persistente e assisti naquele imenso telão, muito grande mesmo, a história da Alemanha em imagens marcantes. Na hora da queda do muro, acontecia uma simulação de fogos de artifícios. Foi realmente marcante assistir tudo aquilo naquele imenso telão, plantado ali e visível para todos que passavam nas intermediações. Era uma espécie de um loop. Eu acabei assistindo quase duas vezes.  E  essa foi a marca que Berlim deixou em mim, caminhando nas ruas, andando de metrô e explorando cada canto dela. E sempre que penso em progresso, penso em Berlim. Discreta, sóbria e por vezes sombria, mas que faz questão de nunca esquecer a sua história para poder chegar ao futuro sem cometer os erros do passado.

Tinha centenas de fotos... mas separei apenas algumas...

 
Todos os dias comíamos nessa padaria. Só tinha uma funcionária. Ela nos atendia com muita simpatia em inglês. Limpava as mesas, entregava os pedidos, recebia e não digo nada, se não era ela quem fazia os pães (rs).  Na Europa, não existe essa abundância de funcionários que tem no Brasil.

Memorial do Holocausto. Um lugar de reflexão.

Lado rico de Berlim. Muitos prédios

O telão da apresentação da história de Berlim. 

Um pedaço do muro de Berlim que sempre te passa um recado através das artes.

Essas maquininhas do metrô/trem davam um nó na minha cabecinha. Ainda bem que o Felipe estava com a gente para comprar os bilhetes.

O lado pobre de Berlim - que foi onde nos hospedamos


sábado, 29 de julho de 2017

Mochilando na América do Norte - Que Loucura. 9 cidades em 20 dias!


 Panamá (ops... América Central), Rockville, Washington DC, Nova York, New Jersey, Montreal, Quebec , Toronto, Buffalo  

Às vezes faço coisas meio malucas, como viajar para a América do Norte, sem falar inglês, deixar o marido tomando conta da casa, e ter mais de 50 anos de idade nas costas. Mochilar pela  Europa é fácil. Já fiz isso. Tem milhares de tópicos te orientando, mas mochilar pela América do Norte é mais raro de se ver. Quase não vi nada a esse respeito, tanto é que esse roteiro foi eu quem inventei. Ficou meio corrido, mas até que deu certo. Quer saber mais dessa história? É so ter paciência e ler meu relato de viagem. 

Viajando com o marido? #soquenão
Nesse ano de 2017, completo 25 anos de casada. É... bodas de prata. E para comemorar fiz um mochilão na América do Norte. Só que tem um pequeno detalhezinho. Sem meu marido.  Durante a viagem trocamos mensagens saudosas pelo whatsapp e só. Talvez se eu explicar melhor como funciona essa dinâmica de ser casada e viajar sem marido, a coisa faça mais sentido.  Em 2005 fiz minha primeira viagem sem meu marido, só com os filhos. Na época, nossos pensamentos divergiam -  ele alegava falta de tempo e de dinheiro. E eu achava que a vida era curta demais para desperdiçar tanto tempo trabalhando sem investir com o lazer. E assim, nesses anos, sempre que juntava um dinheirinho com meu pequeno salário de professora, viajava com os filhos. Normalmente ía de ônibus, exceto quando fomos para Europa (uma das vezes ganhei a passagem em um concurso cultural e a outra vez meu filho já estava lá estudando e fui visita-lo), pois a passagem de avião era muito cara no mês de julho. Nesses anos mochilamos pelas cidades:  Buenos Aires, Bariloche, Valência (Espanha), Puerto Iguazu, Foz do Iguaçu, Cidade Del Leste,  Rio de Janeiro, Vitória, Lisboa, Barcelona, Andorra, Paris, Londres, Berlim, Amsterdã, Veneza, Roma, Porto Alegre, Montevideo, Colonia Del Sacramento e Punta Del Leste.  E assim, nessa aventura eles foram crescendo. Meu marido, sempre me dava apoio moral e às vezes financeiro, mas dizia que era muita loucura fazer isso. Para os amigos e conhecidos era conhecida como “a mãe mochileira”. Ele contava minhas aventuras com orgulho da esposa, posicionado de resistência, mantendo-se invicto diante das minhas peripécias de viagem. Só que para o meu desespero, meus filhos cresceram e cada um agora tinha os seus compromissos. Atualmente o velho está com 23 anos e o mais novo com 22.  Diante desse cenário de ninho vazio, bateu dentro de mim um vazio de mochileira. Com quem viajaria? Meu marido, mineirinho resistente,  foi taxativo dizendo: -  isso não é para mim. E eu o entendo perfeitamente, pois nem todos nascem com esse espírito aventureiro. E como o respeito às individualidades aqui em casa sempre foi uma constante, precisei criar novas alternativas.

Para viajar é necessário planilhar
Não queria esperar pela minha viuvez para poder continuar com minhas viagens, como tenho visto por aí.  Quero curtir meu maridinho por muitos anos – amo esse menino. Mas,  no ano passado, de brincadeira, fiz uma planilhazinha com os custos de viagem pro Chile, montei um grupo no whatsapp com amigas interessadas, eu tenho 52 anos e sou a mais nova do grupo,  e a mais velha tem 63 anos. Enfim, quando percebi que  que era um bom momento para comprar a passagem, acionei o grupo. Quatro compraram a passagem naquele dia depois mais uma comprou e assim fomos as 5 para o Chile no início de 2017.  Foi uma viagem incrível e marcante, que gostaria de compartilhar em outra postagem. Voltamos para o Brasil cheias de sonhos e decidimos que América do Norte seria o nosso próximo destino,  já que todas estávamos com o visto americano.  Fiz uma planilhazinha com os custos e fiquei de olho no preço das passagens. Para variar, sempre viajo em julho por conta das aulas e o preço de passagens nessa época sempre é muito alta. Mas achei uma pela Copa com um preço bem bacana. Novamente acionei o grupo e nós 4 compramos a passagem para os Estados Unidos – Washington. Uma vez que a passagem estava comprada. Iniciei  a execução da planilha com reservas e tudo mais. Foi bem loucura fazer um mochilão em janeiro e outro em julho do mesmo ano. Afinal, sempre dou 1 ou 2 anos de intervalo para juntar dinheiro. Porém, descobri que quando se há uma meta a ser realizada, os recursos aparecem quase misteriosamente. E foi assim. Parcelei a passagem e o resto do meu salário era para comprar dólares. E em julho realizamos a nossa tão sonhada viagem a terra do Tio Sam

Uma conexão no Panamá
Quem nunca ficou com um medinho de perder conexões,  ficar travado em alguma imigração, ou mesmo perder vôos? Eu!!!! Daí comprei a  passagem com uma conexão bemmmm grandona.  Acho que exagerei nas  12 horas de conexão. O lado bom é que no início tudo é festa.  Partimos de São Paulo até o Panamá.  Já tinha trocado e-mail com o lendário Orville e contratado por 110 dólares um táxi para ficar conosco das 11 às 17 horas e nos levar para conhecer o Panamá.  Depois dos trâmites na imigração, preenchimento de formulários, comprovação da vacina, seguimos para a saída e lá estava a nossa espera com um cartaz, o nosso taxista. Não era o Orville, ele mandou um outro taxista, mas muito simpático por sinal. Constatei que o espanhol do Panamá é diferente daqui do sul, mas deu para arranhar algumas palavras e foi bem legal explorar o Panamá de táxi. Fomos ao Canal, ao museu Miraflores, almoçamos e depois fomos ao Centro Novo e velho. Foi bem legal. Valeu a pena. E o melhor que estávamos em 4, daí dividimos esse valor que deu 27,5 dólares para cada uma.  No Panamá, o dólar é aceito normalmente, então nem trocamos dinheiro.  Por isso foi bem tranquilo. O taxista nos deixou no aeroporto e de lá partimos para Washington.


Imigração dos Estados Unidos – nem doeu

Depois de tanto ler sobre a imigração e ouvir tantas experiências, deu um baita frio na barriga. Não porque eu ía fazer algo errado. Estava tudo correto, mas gera tanta insegurança. E minha grande barreira é a língua. Como responder coisas que mal entendo direito? Se fosse Miami, certamente teria milhões de agentes que falam espanhol, mas Washington, não é um destino muito comum para brasileiros.  Chegamos às 3:30 am. A estratégia era que estivéssemos sempre as 4 juntas. Na minha matemática é que 4 pessoas com inglês básico, talvez resultasse em um intermediário.  Na  imigração, eu apresentei minha planilha (traduzida) com passagens, reservas, seguro de viagem, extrato bancário. O agente nem olhou para a papelada. Apenas disse que fôssemos bem vindas, com as duas perguntas que sempre faz: De onde éramos e quanto tempo ficaríamos. Carimbou nossos passaportes e pisamos na América. Um casal amigo nos esperava no aeroporto. E foi tudo tão tranquilo que nem acreditei. Ficamos na casa deles e dormimos um pouco lá, até a noitinha, quando fomos para o nosso hotel em Rockville.

Rockville – um oásis em USA
Quando fui fazer as reservas para hosteis, quase não achei nos Estados Unidos e quando achava não estava de acordo com o que eu queria. Daí as minhas reservas foram, na maioria das vezes para hotéis com 2 camas de casais. Os preços ficavam mais em conta que os hosteis. E para minha surpresa o hotel que reservei era muito chic. Nunca tinha ficada em um lugar assim. Todo carpetado. As camas eram imensas,  lencois macios, travesseiros super fofos – acho que pena de ganso. Suíte linda. Vista linda. Senti-me a cara da riqueza. Só o café da manhã é que não estava incluso. Daí no primeiro dia, fomos tomar no hotel, por 15 dólares. Pela suntuosidade do hotel, achei que seria um super breakfast. Mas que nada. Era bem ruizinho. Por isso, nos dias seguintes tomamos café em uma bakery pertinho do mesmo e pagamos bem menos.
E por falar em padaria, preciso contar esse episódio que me fez chorar de rir depois.
A gente ouve tanto sobre os atentados terroristas que fica meio cismada na América. Um dia, na bakery, ao nosso lado tinha um senhorzinho. Não sabíamos sua procedência. Ele abaixou a cabeça como se orasse, saiu da sua mesa, deixando sua mochila.  A imaginação de minha amiga foi longe: Será que ele orava a Alá pedindo perdão pelos pecados e entregando as nossas vidas para ele? E se ele passar na esquina, dar tchauzinho  apertar um botão e BLUM. Imaginei minhas perninhas voando no ar. Os minutos que sucederam foram de muitas suposições e imaginação fértil. Confesso que fiquei com medo.  Mas... logo o senhorzinho voltou do banheiro, catou a sua mochila e se foi.  Eu soltei um: - Graças a Deus aliviado. E esse episódio foi um dos que rendeu boas risadas. Mas logo chegou nossa amiga que mora em Rockville e nos levou para conhecer a Casa Branca e outros lugares. A nossa estada em Washington foi muito tranquila, pois fomos paparicadas por  alguém experiente e que conhece o lugar para nos ajudar com os passeios a lugares turísticos, compras, outlets e costumes. Foi uma espécie de estágio preparatório de grande utilidade. Porque em alguns dias, partiríamos para Nova York e lá estaríamos sozinhas.


Sorry New York
Pegamos um ônibus da Vamoose e fomos para New York. Nossas malas foram colocadas no bagageiro, mas uma das malas, minha amiga levou junto com ela, pois tinha computador, câmera fotográfica. O motorista informou que as bagagens de mão não poderiam ir no chão, mas no local adequado.  Nos acomodamos e de repente o ajudante do motorista postou ao nosso lado e falou, falou, falou e se foi. Olhamos uma para outra com milhões de interrogações. Essa era a nossa cara sempre que alguém falava algo ou dava algum aviso. Nunca entendíamos nada. E eu fiquei processando algumas palavras e conclui que aquele rapaz dissera algo sobre a bagagem que minha amiga pôs no chão. É claro que quando conclui isso já estava chegando em Nova York e constatei que uma característica do americano é não invadir o espaço alheio.  Qualquer indício de esbarrão é um Sorry. É tanto sorry que você fica até meio zonza. E aquela mala no chão poderia deslizar e esbarrar em alguém, portanto,  sorry, só vim entender isso depois.

4 de julho em Nova York
Chegamos no 4 de julho em Nova York no bairro sinistro de Chinatown. Eu não sei você... mas assim que chego em um novo local, até me familiarizar e entender o local, fico meio com cara de cachorro que perde a mudança e meu senso de lateralidade é horrível. Baixei no meu celular os mapas off-line no Google Maps de todos os lugares onde fui. Mesmo sem internet, apenas com a localização ligada, sei ao certo onde estou. Mesmo com esse recurso, era difícil me familiarizar no começo com as localizações. Como estava no Chinatown, queria ir até a ponte do Brooklyn  e fomos caminhando. Sempre acabava entrando em alguma rua errada. Pedia informações e enfim... foi meio tenso. Havia lido que tinha uma linda queima de fogos na ponte do Brooklyn no 4 de julho.  Depois de muitas cabeçadas e pernadas chegamos ao nosso destino. Tinha umas 30 pessoas na pracinha. Disseram que esperavam pela queima. Foi hiper frustrante. Pois imaginava uma super queima de fogos. Muitas pessoas. E daqui pouco ouvimos um pou pou pou e vimos uns 3 foguinhos. Aff... era aquilo? Que decepção. Não entendi nada. Estávamos cansadas, famintas. Já tinha escurecido. Voltamos a pé para o nosso hotel. A volta foi mais tranquila. Achamos com facilidade. Pensando melhor nesse episódio, conclui que deve ser legal ver a queima do lado do Brooklyn ou no meio da ponte, mas não no pé da ponte, do lado de Manhattan. Nem sempre as coisas acontecem como queremos.


New Jersey
O hotel que ficamos em Nova York foi bem legal também e tinha café da manhã incluso. E sempre após o café saíamos para explorar. Eu não curto muito o lance em comprar pacote de ônibus de turismo. Na minha opinião é chupar bala com papel, sem sentir o sabor. Gosto de me embrenhar nos lugares, vasculhar tudo. E foi assim que fizemos depois do café, saímos a explorar o downtown da ilha, caminhamos pelo centro financeiro, fizemos compras na Century21 e chegamos até o memorial do 11 de setembro.  Na volta paramos no South Street Seaport. Local muito agradável para um fim de tarde contemplando o rio East, as embarcações e  as gaivotas. Por fim, voltamos para o hotel, sem antes parar em um mercadinho pra comprar lanchinhos para comer na janta. Esse foi o nosso ritual de quase toda viagem. No dia seguinte foi minha experiência no metrô de Nova York. Até hoje não entendi ao certo como funciona, mas consegui usá-lo. Não comprei o passe semanal, como muitos sugerem. Comprei o bilhete simples desci no Rockfeller Center e conheci alguns lugares caminhando, como a 5ª. Avenida, o Times Square, Lojas de grife e um pedacinho do Central Park. Visitei algumas lojas, mas é muita ostentação.  Nisso foi o dia inteiro e optamos voltar de táxi, pois já era tarde.
O pessoal estava doidinho para ir ao Walt Mart, mas não tem na ilha e me parece que  o mais próximo está em New Jersey.  Assim no dia seguinte, pegamos o metrô, fomos até o terminal Port Authority para tomar um ônibus até New Jersey. Sabíamos de tudo isso, mas o problema foi achar o guichê do ônibus de New Jersey para comprar os tickets. Pedíamos informações, fingíamos que entendíamos seguíamos em frente e nada. Rodamos o Port Authority, subíamos e descíamos e nada. Teve uma senhorinha, que deu informação em espanhol. Ele muito simpática nos ensinou a contar: one... two... three... Mas nem assim achávamos o guichê. Por fim, minha irmã disse: -  vamos procurar um banheiro.  E quando saímos a caça de um banheiro, vi discretamente umas máquinas de vendas de passagens para NJ. Achamos a dita cuja. Compramos nossos bilhetes nas máquinas e para descobrir onde tomar o ônibus foi outro “parto”. Sempre que alguém falava um número, nossa  mente bloqueava. Nem aprendendo os números com o método da senhorinha latina conseguia entender os números. Por fim, alguém teve paciência conosco e anotou na passagem o nosso portão de embarque. Daí ficou mais fácil. Fomos para o Walt Mart, fizemos nossas comprinhas e voltamos. Só que o one, two, three...  da senhorinha latina virou a piada da nossa viagem inteira.


Socorro,  minha mala não veio para Montreal
Quando recebi o e-mail da Delta,  com minha passagem para Montreal, constatei que faltava uma letra no meu segundo nome. Liguei para lá pedindo a correção, mas a atendente disse que o sistema emitira assim porque não cabia o nome inteiro e que não havia problema.  Fui tranquila, mas na hora de fazer o checkin nas maquininhas do aeroporto, só o meu não deu certo porque o nome não batia. Tive que passar com a atendente e as  correções foram feitas, mas ela demorava para fazer as coisas. Tudo ela perguntava. Fiquei tão cismada com aquela moça. Ao chegar em Montreal, na hora de pegar bagagens... Cadê a minha mala? Ela não chegou. Foi tensa a situação. Pois mal falo inglês. Fui ao guichê das malas desaparecidas quase chorando e disse: My baggage lost – hablas espanhol? A funcionária até tentou... mas um senhorzinho apareceu dizendo que falava português e me ajudou em todo o processo, preenchendo inclusive o formulário para mim.  Minha mala tinha ficado em Nova York e só foi entregue no hotel no dia seguinte.  Até então, muita tensão e expectativa até receber a bagagem. Fora esse episódio, gostei muito de ficar em Montreal. O hotel não era tão luxuoso como o dos Estados Unidos, mas  Montreal me lembra França, por isso  me senti na Europa. Nosso hotel ficava perto do bairro velho e daí curtimos demais andar nas ruas coloridas, floridas e vibrantes de Montreal. Acho que me identifico em espaços menores. No primeiro dias nos dedicamos a conhecer a cidade velha, no dia seguinte, a cidade nova. Incrível. Não andamos de metrô em Montreal. Percorremos a cidade. Experimentei o Maple Syrup. Vi gente entrando e saindo de uma portinha e descobri que era um RESO. Entrei lá e tinha até fonte de água. É  tudo tão discreto e quando você vê já está nele. Acabamos achando um lugar para comer por quilo bem baratinho. Aliás, amei os preços canadenses, bem melhores que USA, sem contar que o dólar canadense é mais baratinho. Outra coisa peculiar é que vi várias mulheres trabalhando na construção civil, em reformas de ruas e outros serviços mais “tipicamente” masculinos aqui no Brasil.  De Montreal, fomos para cidade de Quebec de trem. Foi uma experiência marcante.  Ao chegarmos na estação de trem de Montreal, cheia de bagagens, parei um pouco para achar as passagens, tentar entender como aquilo tudo funcionava e buscar informações em algum guichê.  De repente, apareceu um funcionário muito simpático da Rail e perguntou se precisávamos de ajuda.  Disse que estava indo para Quebec e mostrei-lhe a passagem. Ele prontamente nos orientou onde despachávamos a bagagem e qual era nosso portão de embarque. Embora nem precisasse, pois é tudo muito bem sinalizado como um aeroporto. Já viajei de trem para Europa e a gente tem que colocar a bagagem no trem e brigar por espaços.  Na Rail não. Tem um vagão só para bagagens. Minha amiga despachou duas malas e nem cobraram excedentes. Na hora certa, partimos rumo a Quebec.



Quebec, amor a primeira vista

Sempre que viajo tenho as cidades queridinhas. Quebec foi uma delas. A começar pelo hotel simpático. Ele não ficava no Centro de Quebec, pois na época em que fui fazer a reserva essa região era muito cara, então optei por um em uma região mais retirada... mas ele não deixou a desejar. No dia seguinte, para visitarmos La Citadelle, fomos de táxi. E de lá andamos muito, nos encantando em cada canto desse lugar. E uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o zelo, a limpeza, o verde, as floreiras e uma dúvida pairou o que acontece no inverno com a neve? Morre tudo? Eu tenho a impressão que não. Acho que elas adormecem num sono da beleza e quando chega a primavera elas despertam mais viçosas e gratas.  É a lição da resiliência. Aprendem com as agruras do frio a serem persistentes e resistentes.  Acho que foi essa a lição que percebi naquele solo tão florido e verdejante. Talvez falte neve no nosso Brasil e por isso não aprendemos a ser resilientes.  Tornamo-nos frágeis e diante das adversidades acabamos perdendo o brilho  e não valorizando  a riqueza natural que nós temos o ano inteiro.
Quebec deixou uma marca positiva em nosso coração. Visitamos no dia seguinte Montmorency de ônibus. Consegui comprar o bilhete em uma lojinha de conveniência e pegamos o ônibus até as cataratas de Montmorency. Eu vibro com esses desbravamentos e esse dia foi especial, pois compramos um lanche para fazer pic nic no parque. Descemos 435 degraus até o pé da cascata, depois subimos os mesmos 435 degraus pensando no lanchinho delicioso que nos esperava. Só assim mesmo para conseguir chegar lá. Puf Puf. E no dia seguinte foi dia de partir para Toronto. E novamente a Rail me surpreendeu. Enquanto estávamos na fila, esperando o trem. Um funcionário, muito simpático, pegou as nossas passagens e mudou o número de nossos assentos. Não entendemos o porquê. Quando entramos no trem, descobrimos que ele mudou para que nós 4 ficássemos juntas. Tipo mesinha e poltronas em frente uma com a outra.  Nos assentos anteriores era de duas em duas... mas esse era especial para grupo de 4. Ele viu a necessidade, remanejou e resolveu sem estadarlhaço e sem pedirmos. Não é fofa essa Rail?



Toronto, aí vamos nós
Foram quase doze horas de viagem. E quando chegamos em Toronto já tinha escurecido. Era mais de 9 horas da noite. E lá veio o nosso primeiro susto. Toronto foi a única cidade em que fiquei em hostel. E quando o taxista parou no endereço. Cadê o hostel? Era um bar. E entramos com aquele monte de malas no bar procurando o hostel. E não sei se fui compreendida, comecei a subir escadas que não davam em lugar nenhum. Descemos e adentramos bar adentro, com aquele som alto.  E por fim, alguém se apresentou como do hostel e nos entregou a chave e fizemos o pagamento. Com as chaves subimos com as nossas malas no primeiro andar e lá foi nos apresentado o nosso quartinho.  Confesso que a primeira vista foi assustador. Já tinha desacostumada com os hoteis. Mas depois de uma noite de descanso, as coisas são vistas com mais clareza. O hostel era limpo, organizado e com uma cozinha bem equipada. O metrô ficava quase que encostado no hostel em um bairro grego. E lá fomos nós comprar nossa passagem do metrô. Pedi um bilhete simples e a atendente explicou um monte de coisinhas em inglês. E não é que entendi um pouquinho? Ela sugeriu que comprássemos o passe diário  familiar de fim de semana por 12 dolares. Valia para 2 adultos e 3 crianças. Compramos dois passes, já que estávamos em 4 e naquele dia percorremos vários pontos turísticos de Toronto.  Toronto lembrou-me NY e tem até uma Times Square.  Das aventuras do dia, quase entrei de penetra em um casamento indiano na Casa Loma. Em Toronto, íamos comprar nossa passagem de ônibus para Buffalo, mas com tanta fofura da Rail, acabei comprando a passagem de trem no guichê da Rail. Era o dobro do preço a viagem de trem, mas pensamos que valeria a pena... #soquenao


Buffalo, de trem
 Cedinho partimos para Buffalo. Em Toronto, o pessoal da Rail não era tão amigável. Ao analisarmos a passagem descobri que não tinha número de assento, ou seja, sente-se quem puder. Não tinha despacho de bagagem, apenas um compartimento em cada vagão. Que se vire. Ficamos decepcionadas. Olhando melhor. O trem não era da Rail, ela apenas emitia. Daí entendi o porquê. E assim começaram as dúvidas. E a imigração?  Como será o procedimento? O destino final é Nova Yorque, vamos descer em Buffalo, temos que ficar ligadas  em todos os avisos. E assim, no primeiro aviso, foi hilário. Não entendemos nada. Olhávamos uma para a cara da outra cheia de interrogações e caíamos no riso.  Chegou o momento da imigração. Lá fomos nós com a planilha em punho. O agente da imigração acho que desistiu de me entrevistar, porque viu que meu inglês era péssimo e já liberou a entrada. O trem ficou esperando todos passarem na Imigração e daí perguntei para o funcionário do trem sobre a estação de Buffalo. Ele disse que era próxima. E assim o trem partiu e eu acompanhava tudo no Google maps na minha bolinha azul e quando ele se aproximou da estação de Buffalo, nos aprumamos para descer. O funcionário nos barrou dizendo. Stay here!!! Nisso subiu passageiros. Ele acenou para que mantivéssemos sentadas. O trem partiu... Achei que tivesse uma outro estação para descer... e nada... o trem andou e foi se distanciando. Eu estava tensa, pois pelo maps teríamos que descer na Estação de Buffalo. Depois de muito andar, o trem parou e o funcionário disse para descermos que lá era o nosso destino. A estação era pertinho do aeroporto mas, muito longe do nosso hotel. Parecia uma estação fantasma, pois nem tinha quase ninguém e muito menos táxi. Lá estávamos com aquele monte de bagagens naquela estação desértica, como num velho oeste. Dirigi-me a um funcionário ali da estação e perguntei onde tinha um táxi. Ele prontamente pegou o telefone e pediu um para nós. Esse povo é muito solícito. Dez minutos chegou o táxi e nos levou até Buffalo.  A noite, entendi o porquê o funcionário nos deixou no aeroporto, foi por causa das malas. Ele achou que estaria fazendo um favor nos deixando lá. Enfim... Buffalo é bem interessante. Tem imensos prédios, mas quase não se vê pessoas nas ruas. E na verdade, fui pra Buffalo porque a passagem para Washington ficava mais em conta de lá. Aproveitei para conhecer as cataratas do Niágara. Um taxista paquistanense, muito falante nos levou até lá. Demos muitas risadas com ele, e acabamos contratando-o para o dia seguinte nos levar ao aeroporto. 
O mico de Buffalo foi o elevador do Hotel, que por sinal, foi o mais chic que fiquei. Era realmente muito bonito e o café da manhã era bem rico (para os meus padrões de pobreza – rs) Vi nos comentários, gente comentando que era fraco de opções. Enfim,  teve um dia que pegamos o elevador (panorâmico) e ele parou no terceiro andar. Algum hospede tinha o chamado, mas desistiu de ir. Queríamos ir para o 5º andar, mas o elevador empacou no 3º andar e não subia por nada. Apertamos todos os botões e nada. Por fim, subimos dois lances de escada, reclamando do elevador. No dia seguinte, descobrimos que tinha que pôr o cartão chave para subir no andar desejado. Eita.

Washington – Panamá – Brasil

E no dia seguinte, acordamos cedinho para tomar o nosso vôo. Era muito cedo, 5 horas da manhã,  e café só era servido a partir das 7 horas. Enquanto esperávamos o táxi, a recepcionista entregou para nós um saco contendo, maça, barra de cereal, água e ovo cozido e nos desejou boa viagem. Fiquei pensando na excelência do serviço, pois eles não tinham obrigação em nos servir nada. Partimos de Búffalo e nossa amiga de Rockville nos buscou no aeroporto. Tinha várias coisas que compramos nas outlets em Washington na casa dela. Montamos nossa mala e  a noitinha voltamos para o Brasil, naquela escala monstruosa no Panamá. A única coisa que queríamos era a nossa casa. Estávamos cansadas demais, mas fora isso, felizes porque tudo dera certo mais uma vez.  E se você quer saber alguns preços de passagens, estadia e etc... disponibilizo minha planilha. E esse foi meu mochilão Americano.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O medo do chileno

Primeiramente gostaria de deixar claro que essa é uma suposição minha.
Tudo aconteceu no final dos anos 80 quando fiz minha primeira viagem para o Chile. Fiz uma viagem de 3 dias de ônibus e na alfândega tivemos nossas malas revistadas. Eles não procuravam por drogas ou contrabando, mas por qualquer tipo de alimentos, principalmente frutas ou sementes. Nada podia entrar de origem animal ou vegetal. Fiquei intrigada com isso. Anos se passaram e nesse ano de 2017 antes de desembarcar preenchemos um formulário perguntando se tínhamos frutas ou sementes ou alimentos de origem animal. Um cachorrinho cheirou as bagagens e se foi. Nada foi aberto. E entramos. Fiquei encucada com essa preocupação chilena que difere dos Estados Unidos que morre de medo do terrorismo e se previne contra imigrantes ilegais e na Europa também é a mesma situação. No Chile eles estão em paz com todos.. Tanto é que ele é o único pais da América latina que não precisa de visto para entrar nos Estados Unidos.  O terremoto e o vulcão não lhe parecem ser um empecilho mas uma defesa natural e inclusive vulcão é uma forma de alavancar o turismo, sem contar que ele é excelente para o solo. As plantas crescem com muito vigor e saúde.
Mas e o medo?
Em 2007 fui a patagônia argentina de ônibus. A paisagem era uns 80% sem cultivo. Era bem inóspita... quase um deserto. Já para a patagônia chilena tem uns 80%  de solo cultivável. A terra é muito bem aproveitada. Inclusive o vale de Maipu cujo o solo se assemelha a um deserto nos meses de janeiro possui as melhores uvas. Como não chove a uva fica estressada e dá o melhor de si para sobreviver e, ali o agricultor quando percebe isso, dá água suficiente apenas para que o vinhedo sobreviva. Assim as parreiras  vão criando uma resistência  e sobrevivem e sã fortes e dão as melhores uvas e o melhor vinho. Os pêssegos daqui tem um sabor peculiar. E assim é toda a agricultura. Eles tem orgulho disso e por isso nada de contaminações. Por isso... o grande medo do chileno são de pestes que contaminem suas  plantações.... por isso, eles tem esse controle rígido nas fronteiras.
Essa foi minha dedução.